segunda-feira, 11 de agosto de 2008

portraits of past


Nem devia estar digitando e forçando ainda mais meu antebraço, a dor tá foda, maldita rosca direta drop set...


Estava eu lá, todo neurado por estar desde a 1 da tarde sem comer (o relógio marcava 5 horas, 1 hora de catabolismo), quando resolvi começar a reclamar, mas tudo numa boa. Perguntei ao meu pai se ainda tinha chance de eu ser chamado para um outro emprego, e resmunguei, dizendo que entraria as 9:30 no dia seguinte, meia hora antes do horário normal de expediente.


Isso foi o bastante para o meu pai começar a me xingar, falar que eu sou um merda, que eu só reclamo da vida, que eu preciso é tomar muito no cu pra aprender a viver e deixar de ser esse bosta que tem tudo o que quer, enfim, nada que meu pai já não tivesse me falado antes. Eu tentava ler o que estivesse ao meu alcance, placas, QUALQUER COISA, pra tentar tirar minha mente dali, e não ouvir o que ele dizia. Não consegui.


Chegando em casa, eu já estava extremamente puto com o meu pai, não queria nem olhar mais pra cara dele, fui para a cozinha comer, e depois subi para o meu quarto.
Ouvi minha mãe chegando, ela perguntou ao meu pai como havia sido meu primeiro dia de trampo, ouvi ele respondendo 'esse moleque é um merda, já quer mudar de emprego, só reclama, é um bosta mesmo!'


Eu, que já estava indo pra academia, falei pra minha mãe:
' Não quero mudar de emprego, mãe, só perguntei sobre vagas de outros empregos, e também não sou um merda, como o grosseirão aí falou'

Nessa hora, o cara levantou do sofá, veio pra cima de mim, me empurrou com força, começou a me xingar com o rosto colado na minha cara, depois me empurrou com força na parede, e colou o rosto no meu. Começou a falar só merda, que eu nem vou repetir aqui, entre elas, uma coisa hilária: disse que eu só trazia decepção pra ele. HAHAHAHAHA porra, decepção? Que tal falarmos da decepção que o filho sentiu pelo pai, ao pai notar que o filho não gostava de esportes, e começou a xingar o filho de 'viadinho de merda'? Ou sobre quando o filho apressava o pai pra ir embora, o que fez com que o pai falasse pro filho 'é né, você quer voltar pra casa porque tá apaixonadinho pelo moleque da rua, né? Viadinho de merda'
Eu devia ter menos de dez anos.

Engraçado que, agora mesmo, poderia escrever milhares de situações que o meu pai me humilhou, acabou comigo. Quando pequeno, eu já detestava a presença do meu pai, preferia quando ele ainda estava no trabalho, do que quando chegava em casa.

Hoje meu pai colocou o punho na minha cara, disse que queria estourar minha cara naquele momento; ao sair da cozinha, chutou meu pé e saiu falando bosta...

No tempo que ele manteve o rosto colado ao meu, me encarando e me xingando de tudo o que lhe era mais adequado para extravazar a raiva de fracassado dele, só encarei os olhos dele, mas a vontade era de matar o cara que eu mais odeio na vida.

Você já sonhou que seu pai havia te matado? Eu já.
Minha mãe assistiu aquilo tudo, e ainda teve a moral de falar 'isso, fala assim do seu pai mesmo, viu no que dá?' como se esse fosse um preço justo a se pagar, por chamar meu pai de grosseirão. Sei que posso ter me exaltado, mas nada justifica o que ele me fez passar hoje a noite, um cara te encarar nos olhos, dizendo que vai te estourar, e tu não poder fazer nada... É realmente de se questionar qualquer valor de 'amor' que se sente pelo pai. Não no meu caso, já que não existe amor pra questionar: esse já foi substituido pelo ódio há tempos.

Fui treinar e acabei chorando antes do treino, nem treinei porra alguma, faltei na facul e dei um giro pela cidade com a minha irmã.

Essa raiva desde pequeno pelo meu pai já me fez questionar-se se seria este o motivo pelo qual sou gay (não que eu não ache retardado esse negócio de procurar 'motivos' para ser gay. Alguém fica se perguntando pq é hétero?). Talvez até minha atração por caras mais velhos esteja relacionada com essa falta de uma figura paterna, uma procura por um cara protetor, que viria a substituir a figura de pai. Ou talvez eu só tenha escrito merda o post inteiro: mais morbidez de onde deveria sair algo positivo, pra tentar mudar um pouco essa vida. 'oh messy life', já cantava cap'n jazz.

np: circle takes the square - non objective portrait of karma

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